19/12/13

O presente de Calimero



Pedi (aliás, supliquei) ao Pai Natal inspiração, engenho e arte, para escrever um conto de Natal que tocasse o coração dos resistentes que ainda visitam incógnitos este antro do Vigário. Mas o ansião dos sonhos recusou satisfazer o meu desejo, que apenas pretendia retribuir a amizade que devo a esses meus amigos virtuais – “Este ano portaste-te mal, Relaxoterapeuta!” – proferiu com olhar distante e frio.
- A soberba tolheu-te a razão e a gula insuflou-te o abdómen! Não apoiaste ninguém nas autárquicas, mas depois defendeste a governabilidade com uma coligação entre o PS e a CDU. Escreveste textos arrogantes e imperceptíveis. Foste à FAG e abusaste da poncha. Ridicularizaste o jornal da cidade e o seu director. Não deste aumento à Lurdes Rata. Desejaste a mulher do Arlindo. Foste jocoso com o deputado da nação. Zurziste no Cavaco. Gozaste com o primeiro ministro e com os seus colegas. No fim de semana passado foste ao Museu do Vidro, à Galeria Municipal e à exposição sobre a Indústria de Moldes, apenas porque a entrada era grátis. Não escreveste um post sobre a morte de Mandela. Foste insensível a todos quantos à tua volta desenvolvem projectos sociais de forma desinteressada. Não disseste uma palavra sobre a legítima aspiração do Tocandar a terem um espaço digno para levarem por diante o seu meritório projecto. Enviaste pedidos de amizade no facebook sem te identificares. Ficaste calado por longos períodos e noutros não conseguiste conter a verborreia e o atrevimento. Em tudo viste motivo de chacota e de escárnio. Querias agora a recompensa, era?
Há momentos em que não nos apetece olhar o espelho com medo de nos vermos. Sobretudo com o distanciamento dos olhos dos outros. O orgulho porém impeliu-me a jogar a última cartada:
- O Pai Natal sabe por acaso que o Conselho de Ministro aprovou hoje o aumento da idade da reforma e que o meu amigo vai ter de andar a distribuir beijos e prendas a garotos ranhosos, e a apanhar bosta de rena com vassourinha e pá, até perfazer a bonita idade do Manoel de Oliveira, e com direito apenas a uma caneca de café e meia carcaça dura?
Os olhos do Pai Natal toldaram-se de sangue e revolta. Indignado, procurou no saco das prendas um pequeno frasco de vidro.
- Toma filho, faz bom proveito!
Agarrei no frasco e li o rótulo:  “Inspiração para Crónicas de Escárnio e Maldizer”.


13/12/13

Imaginário natalino




Afinal o Pai Natal existe. Mais, também existe uma Mãe Natal. Estiveram ontem em amena cavaqueira com Pedro Manuel, no Palácio encantado de São Bento, enquanto na sala ao lado Popota ouvia atenta Paulo Sacadura, companheiro de brincadeiras de Pedro Manuel, desabafar com mágoa que nem à macaca se consegue brincar com António José, o colega de recreio taciturno e infeliz que nunca está satisfeito com nada. Coisas de miúdos.
A conversa de Pedro Manuel com o casal Natal correu tranquila e serena. Sem grandes sobressaltos. Sem grandes embaraços.
Pedro Manuel mostrou-se confiante e seguro dos seus sonhos, falando dum país de fantasia, onde fadas e duendes empreendem, a cada segundo que passa, o grandioso milagre da recuperação económica, apesar das investidas dos dragões da bruxa Lagarde e dos ogres de Frankfurt e de Bruxelas. Mas, cuidado! É preciso não baixar a guarda! Porque apesar do caminho traçado nos levar inevitavelmente até Alice e a esse maravilhoso mundo onde tudo é possível, incluindo a diminuição dos impostos sobre o rendimento das pessoas e a reversão dos cortes de salários e pensões, é necessário manter (quem sabe reforçar) uma dieta rigorosa, sob pena do aumento de gorduras nos voltar a precipitar ladeira abaixo, pela força da gravidade dum Estado mãos-largas. Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém e Pedro, no zénit da sua prodigiosa imaginação, sabe do que fala.
Pai Natal e Mãe Natal parecem esmagados pela prosa ponderada e pela quase obscena clareza com que Pedro Manuel esmiuça conceitos complicadíssimos e intricadas equações. Já não têm dúvidas, Pedro Manuel merece a prenda que lhe trouxeram, um monólogo criativo sem qualquer contraditório ou réplica de reposição dos factos. Terá certamente um futuro brilhante. Com toda a certeza passará com distinção qualquer prova oral. A menos que as renas se rebelem e no lugar do casal Natal coloquem dois jornalista (a sério) que perguntem a Pedro Manuel o que realmente todos queremos saber – o que é que ele fez com o enorme saco de gomas que lhe “demos”.



11/12/13

Dialéctica



  
É claro que para quem não tem a mínima noção do que é “planeamento”, falar em Plano B não fará qualquer sentido. Mas será mesmo assim?
Por vezes a realidade demonstra-nos o contrário, a existência de Plano B não resulta propriamente de uma visão estratégica e lúcida da forma como pretendemos antecipar e acautelar eventuais contingências, mas antes como resultado e consequência dos próprios acontecimentos, substituindo-se assim a acção opcional pela reacção condicionada. Senão vejamos. O governo continua a negar a existência de qualquer Plano B para a eventualidade do chumbo, pelo Tribunal Constitucional, de algumas medidas contidas no Orçamento de Estado para 2014. Mas será mesmo verdade? Não, não é. O plano B do governo é António José Seguro. Assim como Mário Soares é o Plano B do PS, os Estaleiros de Viana o Plano B da Martifer ou a coligação PS/CDU o Plano B dos Pereiras (Álvaro & Vitor).
A actual situação do país deixa-me profundamente inquieto. Mas as alternativas que se vislumbram no horizonte ainda o tornam mais negro.
O melhor mesmo é ir comprar 605 Forte para accionar o meu Plano B e ir desta para melhor, caso a hipocrisia do Sr. Silva persista em considerar a democracia como o Plano C ou D para a regeneração política do regime, e caso nós, o povo sofredor, brando e cordato, continuemos impassíveis a assistir ao funeral de Mandela, bebendo minis e comentando a triste figura do Sr. Silva a descascar cebolas e a espalhar diplomacia barata.



06/12/13

Pepe Rápido Show



Há seis dias atrás o deputado Pedrosa escrevia assim no facebook:
“Quinta-feira, dia 5 de Dezembro, o Secretário-Geral do PS, António José Seguro, vem a Leiria expressamente para ouvir a opinião de um grupo de empresários sobre a reforma do IRC. É assim, com os intervenientes que se devem construir as boas propostas políticas.”
Há dois dias atrás o deputado Pedrosa escrevia assim no facebook:
“Na próxima quinta-feira o Secretário-Geral do PS vai ouvir empresários da região de Leiria sobre a reforma do IRC. Uma forma diferente de apresentar propostas políticas, ouvindo os intervenientes. É às 21 h no Hotel Eurosol em Leiria.”
Foi, portanto, ontem à noite.
Hoje de manhã li a seguinte notícia no Expresso on-line:
“PS só aceita baixar IRC depois do IVA e do IRS
A proposta socialista faz parte de um elenco de dez que o PS entrega hoje na Assembleia da República, no âmbito da reforma do IRC.” (continuar a ler)

Conclusão:
António Seguro trabalhou noite dentro, para construir boas propostas políticas que resultaram da auscultação de ontem à noite a um “grupo de empresários” da região, e cujo prazo limite de entrega ao Expresso, era esta madrugada, e na AR, durante o dia de hoje.
Os meus agradecimentos ao Sr. Seguro, por se ter deslocado expressamente. E por se ter deitado tarde.
Vá lá, agora vá descansar um bocadinho que o deputado Pedrosa trata do resto.


04/12/13

Estado Malandro


A propósito desta notícia (via facebook da Irene Constâncio), recupero um post que escrevi em Novembro de 2010, intitulado Banco Alimentar.
Infelizmente o texto continua actual, com uma única excepção, as taxas de IVA, que entretanto aumentaram.