25/01/13

ÁRVORES - Património (i)Material


 
 
Com a devida vénia ao seu autor (Pinhal do Rei), partilho convosco imagens que lamento profundamente. Também aqui se cumpriu o ciclo da vida...

 

23/01/13

No país da fantasia (outra vez)




Portugal, o Futebol Clube do Porto e a Lurdes Rata vão voltar aos mercados.
A Lurdes vai às barracas da Feira dos Porcos comprar "uma coivinha, duas crugetes e meio quilo de cenoiras, para fazer uma sopa para os garotos” e para se certificar que as tendas não voaram, que aguentaram estoicamente, um temporal como há muito não se via e mais quatro anos de desmando alvarista. Afinal um dos maiores alvos de chacota da anterior governação a dois tempos, passou de besta a bestial, de provisório a definitivo, enquanto o “mercado” do Atrium continua à sorte da rataria e da falta de imaginação e de vontade.
O Futebol Clube do Porto vai ao Brasil buscar um ponta-de-lança que pesa mais ou menos o mesmo que os legumes que a Lurdes Rata vai aviar, mas que resolve. Mais uma machadada na moral da lagartagem e mais uma camioneta de €uros para importar um jovem em fim de carreira. O que é preciso é apostar na produção nacional made in Brasil – não se esqueçam de que o homem é seleccionável…
E Portugal? Ah, Portugal, esse país de gente séria, trabalhadora e que sabe enfrentar as agruras com moderação, com ponderação, tirou a farpela domingueira da arca da aliança e, de súbito, vai aos mercados pedir fiado. “Há dúvidas que o país está bastante melhor com a terapia aplicada por suas eminências pardas?” – Claro que está! Claro que está!... Mas, não vá o diabo tecê-las, o melhor é pôr a bóia do patinho e umas braçadeiras por que se lhe falta o pé, nada como um sindicato bancário para assegurar que o esmoleiro não volta de mãos a abanar. "Então e se o sindicato engole um pirulito?" – perguntam os mais afoitos. No problem, uma mão lava a outra e as duas lavam o vesgo – o esmoleiro volta (mais uma vez) a esmifrar a tal gente séria, trabalhadora e moderada e resgata o sindicato - não é por acaso que eles às vezes se esquecem de declarar uns trocos que deixaram por esquecimento nas ilhas do Caimão, enquanto besuntavam de óleo de coco o alto e o baixo-ventre.
Mas, com tanta boa notícia, de que havemos nós de nos queixar? Eu não queria ser desmancha-prazeres mas, depois da papas e dos bolos, o que é que sobra? Eu digo-vos. Sobra um país em agonia, gente sem esperança, um governo que se contradiz constantemente e um “líder” da oposição que chama os jornalistas para fazer o número da foca, equilibrar uma bola na ponta do nariz enquanto bate efusivamente as barbatanas - “eu tinha razão, eu tinha avisado, era tempo de pedir mais tempo!”. Ah, já me esquecia… e sobra também um alcaide que andou quatro anos a arregaçar as mangas para pedir mais quatro, para, agora sim, mostrar o que vale. É como a dívida, precisa de mais tempo… 

  

18/01/13

Posfácio 18 do 1




 A vida é feita de opções, de actos, de vontades, de coragem, de celebrações, de rituais, de tanta, tanta coisa. Das mais simples às mais complexas. Do mais profundo altruísmo ao mais repugnante cinísmo. Pouco me importa por isso, que os homens e mulheres do 18 de Janeiro fossem anarco-sindicalistas, comunistas ou socialistas. O que se releva foi o seu espírito de luta, de quererem mudar o rumo da história, pela liberdade e por uma vida digna, e a forma convicta e desinteressada como o fizeram. É sobre isso que no dia de hoje todos deveríamos ter reflectido e tomado o exemplo. É sobre estes fundamentos de carácter cívico que deveríamos começar, para construir uma sociedade mais fraterna. Infelizmente não é o que vejo. Ou será da minha vista cansada?
 
 

14/01/13

Alvitre




E agora, um bom exemplo de como na blogosfera marinhense se fazem coisas interessantes (via Folha Seca). 


 

09/01/13

No país da fantasia




Enquanto os donos dos carrosséis e outras diversões para miúdos reclamam a diminuição da taxa do IVA, os donos dos tribunais declaram que as diversões para os adultos são arte e, como tal, têm IVA à taxa reduzida. Acho bem. Os putos que brinquem com as putas. Sempre é mais artístico…
 
 

04/01/13

O silêncio dos inocentes

 
Casal da Formiga, vinte e nove de Dezembro de 2012.
 
Cinco minutos antes da hora marcada para o jantar, ouvi um grito descendo a chaminé seguido de um estrondo na lareira. Por entre uma nuvem de cinza e fuligem, a voz rouca de um ancião, entrecortada por uma tosse irritante provocada pelas partículas em suspensão, vociferava alguns impropérios – “Foscasse! C’um caraifo! Eu já não tenho idade p’ra estas m.... caraifos!”
Tentei afastar a poeirada agitando os braços com gestos largos e estendi a mão na direcção do Pai Natal. Ignorando o meu gesto levantou-se a custo e tentou compor a farpela e a aparência, ajustando o cinto à proeminente barriga e passando as mãos pelo fato amarrotado e pela barba em desalinho. Curiosamente, o barrete intacto e imaculado continuava no seu sítio, bem fixo à cabeça grande e redonda, deixando cair grossos caracóis de cabelo grizalho que emolduravam uma cara patusca e rosada.
- Obrigado por ter acedido ao meu convite para jantar, Pai Natal – disse-lhe eu em jeito de boas-vindas.
- De nada meu rapaz, é um prazer.
Sentámo-nos à mesa e começámos a depenicar pequenos pedaços de queijo e de presunto que a Lurdes Rata tinha cortado com a delicadeza de um lenhador. Servi-lhe um tinto alentejano e indique-lhe o cesto do pão.
- Diz lá meu rapaz, o que pretendes de mim? Não te esqueças que o orçamento está curto…
Franzi o sobrolho e atirei a matar, há muito que ninguém me tratava por “meu rapaz”.
- Em primeiro lugar quero que fique bem claro que não acredito em si! Não é de agora…
O Pai Natal engoliu uma côdea e tossicou. Levou o vinho aos lábios parecendo querer ganhar tempo para responder.
- Então por que é que me convidaste para jantar?
- Convidei-o porque sei que se sente só após a azáfama do Natal. Todos se lembram de si até dia 25, a partir daí é mais um velho para as estatísticas.
- Convidaste-me então por caridade…
Deixei escapar um sorriso maroto.
- Não se preocupe que não ponho fotografias do nosso jantar no facebook.
- Agradeço a tua sinceridade mas, se não acreditas em mim como é que poderemos ter um jantar agradável? Vamos permanecer calados?
Terminei um pedaço de queijo, limpei os lábios ao guardanapo e voltei a encher os copos, retomando o diálogo.
- O facto de não acreditar em si não quer dizer que não o estime. Sei que ainda faz muita gente feliz e por isso merece toda a minha consideração. Porém, outros há em quem não consigo acreditar, não lhes reservando qualquer estima.
Desta vez foi o Pai Natal a fazer um sorriso maroto.
- Referes-te ao Passos Coelho e à pandilha? Para que conste, esse tal Gaspar chegou a trabalhar para mim como duende. Era um bocado aldrabão... conheço-o muito bem!…
- Refiro-me a todos os vendedores de ilusões que nos fazem infelizes e descrentes. Há micro-deuses por todo o lado. Nem a minha cidade escapa.
- Enganar faz parte da natureza humana. Nunca enganaste ninguém?
Fiz um ar surpreendido, procurando bem no fundo da minha consciência semelhante culpa.
- Alguns maridos talvez - respondi com a inocência do miúdo que foi apanhado a ir ao frasco dos rebuçados – mas o meu problema não são essas pequenas bagatelas – retomei - o meu problema são outros, o futuro, a dignidade das pessoas, a confiança, a esperança, a felicidade. Tudo isso nos está a ser roubado por gente incompetente que nos engana de forma descarada. Vejo a mediocridade e a incompetência serem premiadas e os mais capazes a serem despejados borda fora. Vejo muitos idiotas cheios de ideias. Estou farto! Farto!
O Pai Natal passou os dedos compridos pela barba manchada de fuligem e retorquiu com os olhos semi-cerrados - mas tu acreditas que é possível viver num mundo em que as pessoas se preocupem mais com os outros do que com elas próprias? Que ponham o bem comum acima do bem individual? Que olhem para as suas capacidades como forma de ajudar os outros? Em que os mais capazes sejam os líderes?
- Acredito, porquê?
- Ho, ho, ho! Então deixa-me que te diga uma coisa meu rapaz, tu ainda acreditas no Pai Natal!… Ho, ho , ho!
Fixei os olhos no prato e não fui capaz de replicar. A crueldade das palavras do Pai Natal abateram-se sobre mim como um cutelo. Inadvertidamente tinha dado a última machadada na réstia de ingenuidade que ainda havia no “rapaz” de cabelos grisalhos com quem partilhava a refeição, e ele sentia-o. “A verdade é tanto mais cruel quanto maior a nossa consciência da realidade” – pensei.
Concluímos a refeição sem voltarmos a abrir a boca. Despedimo-nos.
Temendo novo embaraço, insisti para que saísse pela porta da frente. Anuiu. Levou os dedos à boca e assobiou. Volvidos poucos segundos três pares de renas puxando um trenó topo de gama estacionaram em frente ao portão pequeno. Acenou-me pela última vez e despareceu na noite do Casal da Formiga.
Voltei para dentro e rememorei a canção do Zé Mário Branco:
Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda
Tomei os hipnóticos do sono e deitei-me. Dormi que nem um anjo. Sonhei toda a noite com guloseimas, chupa-chupas, rebuçados, chocolates, brincadeiras de criança. E com gajas.