11/11/13

São Martinho




Machete ajustou os óculos na ponta do nariz e folheou o Borda d’Água com a altivez dum néscio. Fixou os olhos esbugalhados no final da página dezoito, dedicada à sabedoria popular, e leu o ditado como se de um bordão se tratasse: no São Martinho vai à adega e prova o vinho.
Não foi de modas. Abeirou-se do pipo e, sôfrego, meteu queixos à torneira. O néctar correu livre e inundou-lhe o estômago, o fígado e o córtex cerebral.
Mais ao lado, Aníbal Silva e Pedro Coelho, com a boca atafulhada de castanhas queimadas e cada qual com o seu copo de água-pé, não perdiam pitada, rindo a bandeiras despregadas da figura do comparsa. “Este Machete é cá uma figura!…” – sussurrou Pedro a Aníbal piscando-lhe o olho toldado. Anibal aquiesceu mirando os sapatos coçados e rotos nas biqueiras.



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